terça-feira, 27 de abril de 2010 x 15:06
"You cannot step twice into the same river, for other waters are continually flowing in..."(Heraclitus)
Com os braços jogados ao lado do corpo, podia sentir a inércia. O sentimento de vazio, único alicerce. Imóvel, agarrava-se a ele, temerosa que, o mínimo movimento o fizesse escorregar por entre si, evaporando.
Não queria mais sentir, estava exaurida, inepta a continuar, os retalhos de que era feita interiormente, incoscientemente tentavam descosturar-se, fazendo-a ruir.
Gostaria de perder a necessidade de amar, gostaria de nunca tê-la tido.
O sol entrava pela janela alaranjado, despedindo-se, preguiçoso e despreocupado.
O rosto pálido permanecia imóvel, o rosto manchado de lágrimas da madrugada. Conseguira, sucedera-se, se não mais se movesse, se não mais vivesse, não mais amaria e assim, estaria segura.
Fecha os olhos, sentindo as pálpebras tremerem. Não podia dormir...
Não podia mais permitir-se sonhar, os sonhos sempre foram a base do problema, sabia que, sem eles, estaria bem.
Estava perdida e estava sozinha.
O ar sai pesado por suas narinas, enquanto tentava controlar o leve tremor do corpo instável.
Agora conseguia sentir seu interior rompendo-se, devagar, ruidoso. Não queria amá-lo, não queria pensar nele, não queria depender dele, não queria sonhar em estar ao seu lado.
Ela sempre fora invisível e para sempre o seria. Sempre seria apenas mais uma no meio de uma multidão.
Não podia mais amá-lo. Simplesmente sabia.
Sempre achara injusto o fato de pensar ser tão mais fácil do que sentir...
Engole em seco, o céu arroxeado já estava quase escuro.
Ainda não estava pronta, não estava pronta para sair do seu mundo de fantasia, não estava pronta para deixá-lo e voltar para o mundo real, não ainda, não agora.
Suspira uma última vez, trancando seus sentimentos em um baú dentro de si, sendo a única com a chave para abri-lo.
Levanta-se, limpando o rosto e saindo do quarto.
O momento passara, a angústia sob controle, ainda assim ele permanecia inalcansável, longe e impossível de ser alcançado.
Era apenas algo com que teria de aprender a conviver...
Ele era sua obsessão, suas dúvidas e respostas, seu começo e seu fim...